quinta-feira, abril 21, 2005

Revelações

O cabelo lhe cobrira a face e as imagens estavam agora um pouco turvas. Prendeu o cabelo e tomou um gole do café dormido que ficara esquecido na mesa da cozinha. O sabor amargo misturado ao gosto de ressaca a fizeram lembrar dos acontecimentos da noite passada. As taças de vinho, as conversas perdidas...
Sentou-se na beira da cama, cobriu-se com o lençol encardido e acendeu um cigarro.
A dor de cabeça não a deixava. Pegou um livro, ligou a TV, tentou escutar Coldplay. De nada serviu. Imagens desconexas passavam como um filme se repetindo. Não chorou, não riu, nada sentiu. Apenas lembrou.
Nada do que acontecera a deixara chocada. Beijos, despedidas, revelações. Era como se estivesse anestesiada. Sentiu-se fria, exageradamente blasé.
Como chegara àquele estado de espírito? Era mesmo um estado de espírito ou era apenas mais um mal contemporâneo que acometia aqueles acostumados às desgraças do dia-a-dia?
Suspirou como se concluísse uma conversa consigo mesma. Levantou-se da cama, vestiu sua calça jeans mais velha e foi trabalhar. Ao sair na rua colocou depressa os óculos escuros. Não eram os olhos borrados de rímel que a preocupavam, mas a luz do dia que a acordava e a trazia de volta para vida real.